sábado, 16 de agosto de 2008



SOBRE O TEMPO E JABUTICABAS



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daquipara frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina queganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente,mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quemeles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos parareverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos deum fim de semana com a proposta de abalar o milênio.Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutirestatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesarda idade cronológica, são imaturos.Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de"confrontação", onde "tiramos fatos a limpo".Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargode secretário geral do coral.Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas nãodebatem conteúdos, apenas os rótulos".Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,minha alma tem pressa...Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta comtriunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de suamortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tãosomente andar ao lado de Deus.Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amorabsolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

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