quarta-feira, 2 de junho de 2010


Não sou comum...

Estava olhando uns Orkuts por aí e vi tanta gente que cresceu comigo, hoje com filhos, família constituída, emprego estável, dirigindo seus carros, levando os filhos ao colégio, ou seja, com tudo aquilo que se pode falar de uma vida de adulto.

É tão estranho ver que muitos deles e delas mudaram e outros continuam iguaizinhos... só que com filhos... coisa estranha essa. Adultos que conheci criança ou adolescente e agora, adultos... pais e mães de crianças.

Falo isso porque sempre que observo um adulto, principalmente aqueles sérios, absortos no trabalho, fico imaginando ele (ela) criança. Será que já eram sérios assim, será que retinham os brinquedos só pra si, será que se lambuzavam de sorvete, que brigavam na rua, será que eram excluídos e por isso hoje excluem?! Sei lá... é louco, eu sei, mas adoro imaginar essas coisas. Daí me lembro da música do Arnaldo Antunes que fala sobre isso e que tem um título fantástico “Saiba”. Acho que justamente pra lembrar aos adultos de que eles um dia foram crianças, e só tornaram-se adultos; não nasceram nessa condição. A música pra mim, diz que a vida é importante demais pra ser levada a sério, é uma grande brincadeira! Ele fala: “Saiba: Todo mundo teve infância, Maomé já foi criança. Arquimedes, Buda, Galileu e também você e eu”. É muito bacana e isso me faz pensar no quanto negligenciamos a infância, sendo que ela é a parte mais importante de quem fomos e “quem” nos constituiu para hoje sermos o que somos, bons ou maus, solidários ou egoístas, sozinhos ou cheios de amigos e por aí vai...

Mas esse é um tema pra ou outro post, hoje quero falar sim da minha infância e adolescência, muito mais pelos que estiveram comigo e hoje – muitos deles – são como completos estranhos, e muito também pra dizer o quanto me sinto diferente deles, nem melhor nem pior, só diferente. E vou falar: eu gosto dessa diferença.

Na verdade acho que não cresci não... hoje estava me apercebendo disso. Eu sou adulta porque a vida me obrigou a ser. Tenho trabalho, responsabilidades, contas pra pagar, gente pra cuidar, mas a minha criança permanece comigo o tempo todo. Senão vejamos, adoro comer porcarias, não gosto de frutas e verduras, jogo videogame, adoro estar cercada de amigos, mas às vezes quero ficar só, adoro brincar, fazer rir, sorrir, caminhar na praia, ir às festas, adoro andar descalço, não ligo muito para as convenções, prefiro arte a números, choro com e sem razão, sou desastrada, gosto de guitarra, de música no último volume, de desenho animado, não gosto de gente séria demais, amo desenhar e pintar, andar de patins e bicicleta, assistir ao pôr do sol, caminhar na rua e muitas outras coisas que não ouso mencionar...

Acho que sou como os artistas, que declaram ter a alma livre; sou como as pessoas atemporais, que se recusam a crescer, a serem iguais, no sentido de terem uma vida dentro do padrão: crescer, passar no vestibular, fazer faculdade, começar a trabalhar, namorar, casar, ter filhos, comprar bens, endurecer, ficar mais pesado, ter muitas responsabilidades e reuniões, não ter tempo pra família, trabalhar, trabalhar, juntar coisas, ver os filhos crescerem e finalmente, morrer... e lá se foi uma vida...

Não sou assim, me nego a sê-lo...

Quero calçar tênis enquanto puder, usar roupas leves e floridas, quero renovar meus sonhos, todos os dias... Tirar um dia de folga no meio da semana pra ir à praia, tomar um sorvete, ir ao cinema, ou simplesmente, não fazer nada... quero brincar de viver como disse Guilherme Arantes e docemente Bethânia cantou.

Quero continuar desenhando, escrevendo, fotografando (me maravilhando com as cores da vida) enfim, não me conformando com o que foi destinado a mim e a tantas outras mulheres como “A” possibilidade de felicidade: casar, trabalhar e ter filhos (não necessariamente nessa ordem).

Quero deixar outro legado pela minha passagem neste planeta, quero poder ser lembrada por outras realizações, tal qual Clarice Lispector que, apesar de ter seguido o que se destinou a ela, ficou imortalizada pela sua inquietude enquanto mulher e ser humano. Ou como Cora Coralina que viveu um casamento tradicional e só aos 75 anos de idade tirou da gaveta seus escritos e publicou seu primeiro livro. E ela ainda se achava mais doceira do que escritora...

Sei lá o que eu vou deixar pra humanidade, mas certamente não será o que muitos deixam. Eu, definitivamente, saí da calçada dos tijolos amarelos... Peguei um atalho. Onde ele me levará ? Não faço ideia... mas vou até o fim!

E termino referenciando Cora, dizendo que não sei se a minha vida vai ser curta ou longa demais, só quero “que ela seja intensa, verdadeira... pura, enquanto durar.”

Não quero deixar nada pela metade. Quero ser inteira, mas do meu jeito!

É isso...

2 comentários:

Myrela disse...

Já pensei muito sobre várias coisas que tu escreveste... e tenho pensado bastante sobre essa última coisa, do que deixar como legado da minha existência...
Legal o post!
Beijos!

Renata de Aragão Lopes disse...

Quando pequena,
sempre achei que cresceria.

O tempo passou
e permaneço menina,
apesar de todas e incontáveis
responsabilidades assumidas.

Sensação realmente curiosa!

Beijo,
doce de lira